11 de novembro de 2017

Iron Maiden - Rock in Rio (2002)


Quem viu a primeira passagem do Iron Maiden pelo Brasil, em 1985, ficou deslumbrado por ter a experiência de ver pela primeira vez um gigante do heavy metal em pleno auge, e por isso, não foi à toa, que a primeira edição, a fase romântica, marcou de forma indelével o imaginário coletivo das gerações posteriores que tomaram conhecimento do que havia acontecido, que era um sonho distante, através dos famosos bootlegs que faziam a cabeça e também fizeram decolar a imaginação e a vontade de viver na pele a experiência do que seria assistir ao vivo e a cores um show da Donzela de Ferro. Ulteriormente rolou a segunda edição do dito festival, a penúltima edição da fase romântica, isto é, uma sequência antológica repleta de shows tórridos de Megadeth, Judas Priest, Queensrÿche entre outros que a exemplo dos primeiros também estavam no auge de suas carreiras. O Iron Maiden em 1990 lançou o álbum No Prayer For The Dying, um disco que não é ruim, contudo, está longe dos maiores êxitos e, depois, em 1992, soltou Fear Of The Dark que também não salvou exceto pela faixa título que se tornou um emblema e em todos os shows e parte considerável dos lançamentos ao vivo está presente. As coisas não foram legais, os dois álbuns não decolaram. Em 1993, a saída de Bruce Dickinson pegou todos de surpresa anunciando a sua saída do grupo e o fato gerou tanta comoção que até show de despedida teve, cheio de pirotecnias, foi transmitido para o mundo o todo, no Brasil quem fez a transmissão foi a Band.



Para tapar o buraco deixado pela ausência de Bruce Dickinson, a banda fez um espetáculo, ideia do empresário Rod Smallwood, isto é, anunciou um concurso para encontrar o novo frontman da Donzela de Ferro e nem é preciso dizer que choveu fitas de gente como André Matos (que na época estava no Angra e foi finalista), mas infelizmente não foi ele o contratado. Quem venceu o concurso foi Blaze Bayley que na época tocava numa obscura banda de hard rock chamada Wolfsbane. Aqui, enfim, começa o período mais sombrio da história do grupo britânico, o cara não tinha nada haver com estilo do grupo, ou seja, Harris teria que mudar completamente as composições para o novato poder canta-las. Era o prenuncio de um desastre, e foi, o começo aconteceu com X-Factor (1995) e ali já havia ficado claro que cometeram um erro ao fazer essa loucura. A imprensa especializada e os fãs tanto de uma quanto de outra das duas bandas sabiam disso. Enfim, a banda tentou deixa-lo mais à vontade para que ele pudesse se adaptar, mas era impossível ele não tinha voz para cantar as músicas clássicas e de tanto forçar dava um show de desafinação. O ponto final veio com o horripilante Virtual XI (1998), os shows eram de ruins para péssimos por conta de não haver em Blaze o mesmo tipo de voz de seu antecessor e por isso mesmo quando chega a hora de mandar o que ele não tinha, os agudos, tudo rolava por água abaixo, e realmente foi...    
 

A banda sentou-se com o seu staff e, dessa vez, tiveram que repensar tudo e chegar até uma resolução cujo diagnóstico era demiti-lo, pois, caso contrário a próxima turnê seria a despedida era insustentável manter aquela situação mais do que tenebrosa por mais tempo. Depois de despedi-lo, Steve Harris e Smallwood decidiram que Bruce Dickinson (que estava numa ótima fase de sua carreira solo que já estava consolidada) tinha que retornar de qualquer maneira porque ou era aquilo ou acabar. Bruce Dickinson não se opôs a voltar a tocar com ex companheiros desde que eles aceitassem o retorno de Adrian Smith (o cara foi o responsável pelo sucesso do grupo na sua fase dourada). O retorno anunciado pela imprensa dizia que agora eles viriam em sexteto, quer dizer, teriam três guitarristas no estúdio e nos palcos. Foi nesse oba-oba que em 2000, eles soltaram Brave New World, o disco dividiu opiniões, porém, ao mesmo tempo, mostrava um Iron Maiden renovado e, dessa vez, havia o acréscimo do progressivo a sonoridade que era ainda mais direcionado pelas guitarras que agora seriam trigêmeas e exalavam talento, virtuose, jamais vistos em outra banda. 

Quando anunciaram a terceira edição do Rock in Rio, a última da fase romântica, em 2001, para a surpresa dos Maiden maníacos a banda iria fazer a segunda apresentação no festival e o momento não poderia ser melhor para isso, pois os fãs brasileiros depois de quinze anos, a antiga e a nova geração, poderiam juntos pela primeira vez dividir o mesmo recinto para assistirem ao show de um banda que recentemente havia reorganizado a formação original e vinha com um grande álbum de estúdio na bagagem para mostrar. Eles foram á atração principal, no palco mundo, fechando a noite, no dia 19 de janeiro de 2001, tocando depois de Queens Stone of Age (um competente que conquistou o público), o Sepultura (show de uma banda decadente que estava a anos luz de seu passado glorioso que os consagraram como um dos grandes nomes do heavy metal mundial), teve também Rob Halford (que ano anterior, depois do projeto One, retornou ao heavy metal e atacou com o furioso Ressurection e, ali, tudo fez jus ao álbum e a segunda parte de sua ressureição com um show maravilhoso) para um público estimado em mais de cinquenta mil metalheads que se despencaram de todas as partes do país, mas haviam boatos afirmando que o total eram mais de duzentos e cinquenta mil que estavam circulando por ali naquele dia e que não puderam assistir porque a organização borrou nas calças por medo de tumulto, desordem generalizada, enfim, um grande equívoco misturado ao preconceito. Este show foi o último da Brave New World Tour e a banda ao invés deixar-se prostrar pelo cansaço mandou um set list de tirar o fôlego, mas não ficou atado aos clássicos tocaram metade do novo disco e mandaram ver o material da fase Blaze Bayley.


O show foi filmado e, em 2002, foi lançado nos formatos DVD e CD, acontecimento que gerou um sentimento de surpresa e de extremada alegria especialmente naqueles que como este que vos escreve que poderia finalmente conferir o show perdido, o DVD trás ao expectador uma experiência quase que real de assistir a um show no pé do palco vendo os integrantes arrebentando, isto é, o material gravado ali é não são pedaços de shows extraídos para monta-lo estamos falando do show inteiro sem interrupções que um aparelho de home theater potente resolve e o mesmo se diz de um ótimo sistema de som para tocar o cd. Depois da introdução, com a opera Arthur’s Farewell de Jerry Goldsmith, a banda não perde tempo entra totalmente eletrizante despejando para cima da plateia “Wicker Man”, o primeiro single de Brave New World, e também a primeira das cinco tocadas o do álbum. A banda fazia parecer continuar de onde havia parado, o som pejado de melodias e com guitarras esfuziantes faziam com que esta banda trouxesse os céus abaixo. A sequência veio com a matadora “Ghost Of The Navigator, um clássico instantâneo, cativante pelo conjunto instrumental e pelo refrão poderoso, forte e melódico, totalmente, sentimental, isto é, o momento épico que marcou época na cidade maravilhosa nas mudanças de ritmo complexas. 

O Iron Maiden apostou em composições mais longas que reafirmavam mais do que nunca Steve Harris como um dos maiores compositores do heavy metal, o cara usou todo o catálogo de suas influências, da qual, se fez claro em “Brave New World” e por um momento pensei estar dentro do mundo de Aldous Huxley, um verdadeiro visionário que previu o futuro em sua obra magnífica, misteriosa e enigmática que teima em ser cada vez mais atual, o Maiden aqui mandou uma porrada clássica que arremete diretamente ao seu passado magnífico que se perfaz numa viagem alucinante por distantes galáxias do pensamento, um último estertor antes do ponto final. Depois de mandar uma trinca do novo álbum, eles começam a soltar os clássicos e já mandam de cara à arrebatadora “Wrathchild” que vem com um solo ainda mais preciso e matador, o trio de guitarras provava a sua eficiência dizendo ao subconsciente dos expectadores que vieram mesmo para ficar. Em seguida soltam a pesada e rápida “2 Minutes do Midnight” e aqui Bruce Dickinson demonstra a sua força vocal que vai lá nas alturas recuperando o brilho e o prestígio dos imortais do heavy metal em longos e complexos devaneios instrumentais. Depois de presentear os fãs com dois clássicos retomam a sequência de Brave New World e entregam “Blood Brothers”, a antepenúltima de Brave New World, uma boa balada heavy repleta dos lances sentimentais que são extravasados pela voz ardente de Dickinson que junto com o coro da plateia a deixam ainda mais hipnótica.


Uma não duas provas de que Blaze não tinha condições de fazer parte do Iron Maiden estão, da qual, a primeira é Sign Of The Cross do X-Factor e os vocais de Bruce atingem todas as notas que o seu antecessor jamais conseguirá por conta dos talentos diferentes. Bruce Dickinson é parte fundamental do Iron Maiden e somente ele é quem está apto a cantar nos discos lançados por eles. Blaze não é ruim é ótimo vocalista, mas infelizmente a banda parece não ter se tocado de que nunca haveria a possibilidade, a menos que mudassem de estilo, de haver o encaixe perfeito dele na banda. Essa faixa surpreende pela complexidade instrumental que exige dos músicos toda sua habilidade, uma peça das influências de progressivo que relembram gente do naipe de Nektar, Wishbone Ash. O Iron Maiden é daquelas bandas sempre para a frente e vive nos palcos o presente, mas nunca abandona ou o relega a segundo plano, ou seja, faz um misto muito bom entre ambas as fases, porém, nesse caso que se tratava de um álbum novo privilegiaram-no, e bem, retornando a ele com a acelerada “The Mercenary” um ótimo exemplo da reciclagem que a banda fez na sua sonoridade que nortearia o futuro. Com “The Trooper”, um hino, talvez o momento mais alto do show, eles convocam as suas tropas para bater cabeça e mais de cinquenta mil cabeças cantam junto com Dickinson enquanto a cavalaria vem como um raio saltando das guitarras flamejantes do trio superpoderoso e em linhas pulsantes e eletrizantes de Steve e a artilharia de McBrian não perdoa arrasando em linhas poderosas e cavalares.   

Abrindo o segundo disco, o Maiden vem com Dream of Mirrors, a última do Brave New World tocada nesse show, essa música e as outras mais longas eram o início de algo que seria corrente nos shows da banda, e os clássicos cada vez mais sairiam de cena, exceto os principais, para dar mais espaço para os discos mais novos. A faixa em si é uma das mais longas do show e em relação a sua estrutura não é muito diferente e nem menos complexa do que as outras, entretanto, ela é um reflexo da nova fase do grupo que prima por músicas mais longas, melódicas, complexas e pesadas mantendo a agressividade característica e pungente da Donzela de Ferro. Mais uma vez, agora em definitivo, o Iron Maiden revisita o Virtual XI e aí está uma prova cabal e extremamente contundente de que este como o antecessor dele eram discos para o Bruce Dickinson cantar, a faixa de The Clansman ganhou ainda mais vida e por ser épica Dickinson pós ainda mais emoção nela e banda detonou nas partes que lhe coube elevando o nível além da estratosfera. Retornando aos clássicos, foi apresentada ao público uma versão estonteante de “The Evil That Man Do”, ali foram exorcizados todos os demônios, e é a prova de que é o próprio homem através de suas ações é quem faz mal a si mesmo, mas ainda bem que pode ser consertado com esse retorno e com esse disco e com essa versão matadora.


Iron Maiden é uma faixa visceral que não pode faltar, visto que, ela reflete toda a agressividade, peso e melodias desorientadores que faz o ouvinte se equilibrar nos estertores da mente já combalida e retorcida por conta de riffs e solos, linhas de bateria e de baixo somando a vocais potentes totalmente insanos. Outro grande momento desse discos é a clássica e perene “The Number Of The Beast” que depois da introdução descamba para mais absurda pancadaria fazendo os miolos saltarem para fora do crânio de tanto bater cabeça, rodopiar, sem parar na frente do palco ou cdplayer em casa tamanha é a força desnorteadora dessa faixa poderosa, mágica. Depois de um momento de iluminação vem a revelação com a “Hallowed Be Thy Name”, do qual, o tema forte faz dela uma força, um manifesto, do heavy metal e toca nos assuntos inerentes ao homem em sua existência frágil por aqui. O saudosismo é um fator sério numa banda clássica que conta com várias e várias músicas que fizeram história marcando em definitivo e de forma indelével a carreira e, principalmente, a vida dos fãs e isso exige que essas músicas sempre ou quase sempre marquem presença nos shows como é o caso de "Sanctuary" uma faixa que arremete ao punk e a atitude mais seca e direta do Maiden e que ao vivo ganha uma dose extra de agressividade fazendo dela quase um estupefaciente. Iron Maiden é uma faixa visceral que não pode faltar, visto que, ela reflete toda a agressividade, peso e melodias desorientadores que faz o ouvinte se equilibrar nos estertores da mente já combalida e retorcida por conta de riffs e solos, linhas de bateria e de baixo somando a vocais potentes totalmente insanos.

Outro grande momento desse discos é a clássica e perene “The Number Of The Beast” que depois da introdução descamba para mais absurda pancadaria fazendo os miolos saltarem para fora do crânio de tanto bater cabeça, rodopiar, sem parar na frente do palco ou cdplayer em casa tamanha é a força desnorteadora dessa faixa poderosa, mágica. Depois de um momento de iluminação vem a revelação com a “Hallowed Be Thy Name”, do qual, o tema forte faz dela uma força, um manifesto, do heavy metal e toca nos assuntos inerentes ao homem em sua existência frágil por aqui. Fechando em ritmo frenético e pulsante vem “Run To The Hills” cujos os solos iniciais já dizem tudo sobre a faixa e que de fato, eles, são feitos de aço puro que corre nas veias abertas do Brasil. Rock In Rio foi um disco em que a banda, na turnê, testou todos os limites, expurgou definitivamente todos os seus demônios e demonstrou grandes avanços e encaminhou os rumos que afetariam seu futuro. Para nós brasileiros ficou a experiência de ver um show especial causador de fortes emoções de poder encontra-se ali no meio da plateia sentado em casa com os amigos e a namorada e poder se gabar dizendo “estão vendo? Aquele cara ali! Olhem... sou eu...”, para os que não foram fica um gostinho bom de poder ver na televisão ou ouvir no aparelho de som avalanche sonora e impetuosa do Iron Maiden que renascia completamente rejuvenescido e com mais fôlego para enfrentar os vários desafios que apareceriam pelo caminho. Mesmo com os defeitos na produção este álbum pode ser considerado uma peça única na discografia da banda já que nem uma outra banda conseguiu extrair tanta paixão e emoções a flor da pele de uma plateia tão quente, entusiasmada e insana como é a brasileira e os gringos puderam sentir isso na pele ao ouvir a plateia rasgar o coração a beira do palco como se não houvesse amanhã, a eternidade é logo ali e aí está a prova.

Track List:

CD1

01 Intro
02 The Wicker Man
03 Ghost Of The Navigator
04 Brave New World
05 Wrathchild
06 2 Minutes To Midnight
07 Blood Brothers
08 Sign Of The Cross
09 The Mercenary
10 The Trooper

CD2

01 Dream Of Mirrors
02 The Clansman
03 The Evil That Man Do
04 Fear Of The Dark
05 Iron Maiden
06 The Number Of The Beast
07 Hallowed Be Thy Name
08 Sanctuary
09 Run To The Hills

  



            
    

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