19 de agosto de 2017

Iron Maiden - Seventh Son Of A Seventh Son (1988)


O ano de 1988 experimentou grandes mudanças como o fim da guerra fria que na verdade era o preludio para a extinção da ex-U.R.S.S que ruiu de vez três anos depois, porém ainda assim havia a ameaça nuclear não de uma guerra, mas da contaminação que ameaçava a Europa após a castrofe nuclear ocorrida na Usina de Chernobil. Enquanto no Brasil ainda recém saído do seu período mais sombrio agora tentava marchar rumo a democracia ao mesmo tempo em contava seus mortos e procurava os seus desaparecidos denunciando as violações dos direitos humanos praticadas nos porões dos matadouros do DOI-CODI aonde ocorreram vários assassinatos, estupros, torturas até de crianças e de bebes e o que mais se puder imaginar, mas ainda haviam os resquícios que assombrariam o presente, marcado também pelo assassinato de Chico Mendes e também viu o fim da censura e da tortura entre tantas outras coisas.


Nas artes, ou seja, na música, as coisas iam bem o Fates Warning dava o ponta pé inicial no metal  progressivo lançando No Exit só que não estava sozinho e ao seu lado o Queensrÿche lançava Operation Mindcrime, o metal extremo viu surgir o Death delineando o death metal a ser praticado na década seguinte. O Metallica entrava de sola com And Justice For All seu disco mais cerebral carimbando o seu passaporte para o Mainstream, eram os anos do Thrash, e na sequência o Megadeth ia para o seu terceiro álbum. Na Alemanha, o Destruction vinha para cima com Releases From Agony um substituto à altura de Eternal Devastation. Na Suíça, o Celtic Frost incinerava o passado recente de discos poderosos como Morbid Tales (1984) e To Mega Therion (1985), pilares do Death e Black Metal, para se jogar na aventura frustrada de tentar ganhar o mercado norte americano com Cold Lake, uma tentativa pífia de fazer hard glam que custou muito caro a Tom Warrior e seus comparsas. O Judas Priest mais uma vez tropeçava ao tentar se recuperar do fracasso de Turbo (1986) com Ram it Dawn, ou seja, como se pode ver tanto dentro quanto fora da música o mundo passava por mudanças e também marcado por tentativas de renascimento lugar aonde se encaixava o Iron Maiden depois de ter experimentado um desagradável desconforto com as críticas negativas e das interrogações sobre o futuro do grupo já que anterior ao último disco a banda trazia na sua sacola uma penca de discos clássicos, shows memoráveis sold out, então o jeito para se levantar e escapar do fantasmas das críticas, das quedas de vendas de álbuns, era trazer a luz um novo clássico que fizesse o seu público esquecer o último disco. 


O processo de ressureição da donzela de ferro, ou seja, a gravação de Seventh of a Seventh Son, aconteceu na Alemanha, em Munique, no Musicland Studios, cuja produção mais uma vez fora assinada pelo mega produtor Martin Birch. A gravação de Seventh Of A Seventh Son marcou o fim de uma era por ser o último que Adrian Smith até o seu retorno no começo do século posterior. O lançamento do sétimo álbum do quinteto fantástico ocorreu no décimo primeiro dia de abril de 1988, a reação ao álbum foi extremamente positiva por parte de imprensa que afirmava o renascimento, ou seja, a restauração do grupo em relação a Somewhere in Time ao haver eliminado os sintetizadores e mergulhado de novo na sonoridade crua direta e reta que lhes é inerente. As inevitáveis comparações colocaram de imediato o álbum ao lado de clássicos como Powerslave e The Number of the Beast que construíram a reputação do Iron Maiden como uma das maiores bandas de heavy metal de todos os tempos. Por outro lado afirmando a veracidade de que o álbum é fruto de um trabalhado esmerado foi colocado por servir-se de inúmeros elementos do rock progressivo ao lado de obras primas, definitivas, como The Dark Side of the Moon do Pink Floyd e de Tommy do The Who e também de Tubullar Bells de Mike Oldfield. Os álbuns da banda são marcados pela complexidade das composições, fruto das influências diretas que a banda recebeu de inúmeros artistas tanto do hard quanto do progressivo que refletem diretamente na capacidade de construção das composições afirmando Steve Harris como um dos maiores compositores da história do rock.

Seventh Son Of A Seventh ainda tem a vantagem de poder contar com o lado intelectual de Bruce Dickinson nas letras, ou seja, é conceitual cujos temas entram dentro da filosofia do Mago Aleister Crowley abordando a lenda do Sétimo filho portador de poderes sobrenaturais cuja missão, da criança que foi enviada a terra, seria ser um elo entre o bem o e mal. As discussões abordadas nas letras são sobre visões proféticas, misticismo, reencarnação, a luta eterna do bem contra o mal e os dilemas da vida após a morte, ou seja, temas filosóficos que entraram na pauta do grupo e que estão espalhados pelos outros álbuns ainda que não sejam conceituais como este. Entrando na parte que realmente interessa que são as oito faixas que compõe esta pequena pérola, a faixa de abertura Moonchild destaca-se pela sua influência direta de Aleister Crowley cuja letra é baseada no ritual "Liber Samekh" e também pela complexidade instrumental e dos vocais de Dickinson que conclamam o ouvinte a embarcar no ritual do sétimo filho da donzela de ferro. A balada “Infinite Dreams” discute os dilemas da vida após a morte cujo o personagem do tema abordado tem visões aterradoras na vida após a morte entre outros fatos místicos que aparecem no seu sonho que o faz ter medo de nunca acordar outra vez. Tudo isso embalado numa sonoridade que se alterna entre momentos tranquilos e outros mais rápidos, agitados e dão potência a narrativa do tema abordado que fazem desta uma das principais canções deste álbum. 


O heavy metal sem o feeling, ou seja, sem o lado emocional na narrativa vocal quanto instrumental é um objeto morto, mas o Iron Maiden surfa por cima dessas ondas colocando mais do que o coração, ou seja, dão a própria vida atrás de seus instrumentos fazendo suas várias acrobacias e pirotecnias ao testa-los além do limite da virtuose como é o caso de “Can I Play With Madness” que dá vida a um jovem que tenta encontrar um profeta para através de uma bola de cristal saber o futuro. O protagonista pede ajuda ao profeta a dominar as suas visões e pesadelos constantes, mas o personagem ignora os ensinamentos do profeta. Talvez o lado mais emocional e quiça passional do Iron Maiden esteja em “The Evil Man That Men Do” não só pela complexidade e pela paixão com qual o quinteto se integra lançando o ouvinte dentro de uma espécie de inferno de Dante ao contemplar o mar de fogo emanado do instrumental pelo que tenta transpor para estabelecer a sua ponte com o que há de mágico e entender a mensagem da letra construída através de um fragmento retirado de um discurso de Marco Antônio feito aos romanos após a morte de Júlio Cesar (imperador romano) que consta na peça de Sheakspeare chamada Jullius Caeser, porém a mensagem da letra é a seguinte: o mal do homem sobrevive a ele porque ele mesmo através de suas ações ao longo da história, pela incompreensão de seus atos e paixões, faz recair sobre si o mal que o aflige e que contamina a humanidade que vive a se equilibrar nas pontas dos pés numa corda bamba em chamas. 

O lado épico, sombrio e naturalmente não pode ser deixado de lado ainda mais para narrar a faixa título que carrega o tema central do álbum e onde se encaixa, ou seja, é mola mestra que reúne em torno de si todas as outras peças que o compõe. A sonoridade envolve pela sua complexidade e pelo clima místico e também de suspense que carrega a tensão presente em cada nota deste tema que alcança o cume com os duelos de solos de guitarra, pura pancadaria que hipnotiza e eletriza o ouvinte levando-o ao caos sonoro me meio as quebradeiras produzidas e conduzidas pela Adrian Smith e Dave Murray que sabem transformar o drama contido nas linhas da cozinha em uma bela história de horror e esplendor que levam ao delírio e prendem o ouvinte pelo cérebro esperando pelo momento final que salta aos ouvidos deixando a sensação de espanto devido a habilidade em desmanchar as guitarras e tudo mais que puder ser derretido e levado até as portas loucura, a insanidade reina aqui! 


Em “The Prophecy”, o Iron Maiden, mais uma vez recorre ao momento épico só que cadenciado deixando o caminho livre para Bruce Dickinson soltar a sua voz e brilhar interpretando com toda emoção que lhe cabe e é característica para narrar a concretização das profecias que condenam toda à aldeia a sofrer no purgatório por ignorar o verdadeiro sétimo filho dono do poder de curar e uma segunda visão. “The Clairvoyant” uma verdadeira canção de heavy metal digna da genialidade do Iron Maiden, o tema é inspirado na história de Doris Stokes questionando a possibilidade de ela realmente prever o futuro não ter previsto a sua morte. Encerrando com chave de ouro entra em cena “Only Good Die Young” cuja narrativa é um questionamento sério a religião cristã, a moralidade e ao estilo de vida adotado pelos seres humanos durante a sua passagem pela terra que se desdobram nos seus atos e ações praticadas e, portanto, a pergunta, se são apenas os bons que morrem cedo e o mal é quem sobrevive, é de fato um questionamento a tudo o que está imposto e qual é caminho que se deve trilhar já que há em nós tanto bondade quanto maldade, pois são dois fatos que se interligam e são indissociáveis, inerentes a natureza humana que muitas vezes nega a humanidade se escondendo atrás de uma crença que não tem as respostas, as chaves para compreensão da vida e dos seus acontecimentos. Já dá sonoridade é completamente dispensável discorrer algo além de que é uma grande canção de heavy metal aonde aparece o talento, a virtuose e complexidade instrumental marcante reafirmadora da personalidade do grupo.

A verdade é que o Iron Maiden encerrava a sua participação na década de 1980 de bem com a imprensa e com os fãs e partia para uma turnê muito bem sucedida que foi registrada no clássico e histórico álbum ao vivo Maiden England´88 (ler aqui) que foi recentemente relançado tanto em dvd quanto com uma nova embalagem e outro fato que mostra a força desse registro é que o Iron Maiden refez a turnê passando pela América e pela Europa, o Brasil ficou de fora por conta do alto custo que demanda os cenários utilizados para a representação de cada faixa que foi tocada no álbum. Ainda para compreender a força e a importância de Seventh Son Of A Seventh a revista alemã Rock Hard o colocou na lista dos 500 melhores álbuns de heavy metal na 305º posição. A parte triste é que do segundo line-up considerado o clássico a primeira baixa ocorreu com a saída de Adrian Smith que retornaria a banda somente no século posterior. Encerrava-se assim a fase mais brilhante da carreira do Iron Maiden que entraria na década de 1990 sem o mesmo vigor e a mesma consistência e para além disso ainda ocorreria saída de mais um integrante, Bruce Dickinson. Essa história fica para outro dia, pois agora é hora de tirar a poeira desse álbum e sentar ao lado sétimo filho e abraçar o profeta e embarcar nessa visão e tentar não morrer ainda jovem porque os sonhos ainda podem ser infinitos porque a vida não acabou e por isso mesmo pulo no abismo. 

Faixas: 

Lado A

A1 Moonchild 
A2 Infinite Dreams 
A3 Can I Play With Madness
A4 The Evil That Man Do 

Lado B

B1 Seventh Son Of A Seventh Son 
B2 The Prophecy 
B3 The Clairvoyant 
B4 Only The Good Die Young 




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